quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Frustração, Cerveja e Sophia

A voz no telefone, do outro lado da linha, confirmava o medo que me rodeava desde a hora em que acordei. Nós não nos encontraríamos devido ao seu trabalho e, para variar, assim que lhe desejei um bom dia e escutei um eu te amo do outro lado da linha, exerci meu ritual habitual diante da frustração: beber uma cerveja.

Sophia é uma mulher de estatura baixa, mas que condensa toda uma formosura.Linda, incrível, e não só pelo rosto angelical que Deus havia lhe dado, tinha um corpo suculento e apetitoso. Esse corpo, com certeza, deve ter sido esculpido pelo demônio em pessoa. Como poderia existir uma mulher que carregasse todos os atributos e qualidades mais desejadas pelos homens? Só pode ter havido uma parceria entre as duas divindades antagônicas na hora de criá-la.

Pensei nisso enquanto abria minha geladeira e descobria que ela estava vazia – com exceção de dois ovos de galinha perdidos por ali e um pedaço de queijo cedido por uma vizinha quando me viu chegar a casa portando apenas um saco com três pães.
 
“Porra! Vou ter de ir ao mercado”.
 Abri a carteira. O pouco de dinheiro daria para comprar um engradado da cerveja mais barata.

Na rua, eu não parava de pensar nas coxas de Sophia. Naquele seu sorriso cínico que usava para disfarçar seu apetite sexual diabólico. Sem falar nos seios fartos que carregava. Ela costuma usar aqueles sutiãs com bustiê para potencializar o desejo provocado em mim ao fitá-los com a fome de um mendigo. Não existe um homem que não lhe direcione o olhar, mesmo ao acaso, e não analise calmamente suas belas formas.

Cheguei ao mercado. Sophia não saía da cabeça. Ela estava longe, mas se fazia muito presente. Sempre tive medo desse tipo de mulher. Linda, provocadora, mas vivia me dando uma bela dor no pau por não poder comê-las a hora que mais me conviesse. Eu estava louco para entrar no meio daquele par de coxas fazia dias, e ainda teria que esperar um pouco mais.

“Com a cerveja é diferente. Está sempre aqui do meu lado. Minha amante favorita”.

Disse isso em voz alta, enquanto o indicador vagava entre o preço das bebidas – quente é mais barato - e não reparei na velha ao meu lado me encarando com ar de reprovação. Ela levava uma bíblia sob o braço e havia tapado os ouvidos do neto assim que a encarei.A fila do caixa estava vazia.

“Esse lugar é mesmo uma espelunca”.

Outra vez falei alto demais e a balconista me olhou com desprezo. “Ah, foda-se”, pensei com cuidado para que as palavras não saíssem pela boca. Pegando o engradado nos braços, enumerei minha situação: estava sem dinheiro, carregando uma bebida quente nos braços e, a mulher gostosa que queria comer não poderia me dar ao seu deleite como havíamos marcado.

Cheguei em casa, abri a cerveja quente e forcei sua entrada no meu organismo numa tentativa de não deixar o coração sair pela boca. Estava deitado na minha cama de casal,sozinho.É, a vida tem dessas coisas. Exagerei no consumo das cervejas. Uma após a outra, sem pausa, era mandada goela adentro para abrandar minha carência e desespero. Tive uma visão: ela estava ali comigo,em trajes libidinosos, calcinha rendada, seus quesitos incontestáveis, sua bunda macia e sua boca molhada.

 “Quanto tempo mais para agüentar?”.

 Bebi a última latinha com o mesmo tesão que agiria ao ver Sophia nua. Deitei e olhei o teto. Virei a latinha para conferir se não havia restado nem uma gota lá dentro. O sono começou a vir. Fui abatido pelo cansaço da espera embora a mente ainda aflita, esboçava sem esforço a sensação ao tocar Sophia.

6 comentários:

  1. Nossa, pegou no meu ponto fraco: quando não tem cerveja na geladeira........
    Mas gostei da tua Sofia, gostei muito dessa prosa. Quis te seguir, mas deu um pau. Eu volto.

    ResponderExcluir
  2. Puxa, dei mais uma lida...sei que a escrita pode não ser literal. Mas olha, cerveja e cigarro, est
    ào sempre pra mim. Me tocou tua narrativa. Mas já disse isso.

    ResponderExcluir
  3. Gostei muito do teu jeito de escrever, simples, verdadeiro, bom de ler.

    Os textos do "Noites de Gato" são na maioria meus e alguns sim, são bons achados da literatura.

    Beijão

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  5. Triste fim de um cara duro.
    Bom, ele dormiu esparramado já que, pelo menos, a cama não é de solteiro... rs.

    Bacana.
    E obrigada pela visita.

    ResponderExcluir
  6. Realmente cara, curti muito essa comparação de a atração por uma mulher com as bebidas, mas só cuidado isso pode influênciar os sub-18 =D.

    Brincadeiras a parte, todas as palmas virtuais a você!

    ResponderExcluir